O sumiço dos
livros
Albert,
magricelo, alto, de estilo intelectual com seus olhos azuis encantava as
moças do bairro onde morava. Já nos seus vinte e quatro anos resolveu, por
gostar de ler, investir numa biblioteca.
Estrategicamente,
a biblioteca foi inaugurada próxima à escola, situada no centro da cidade.
Semanas se
passaram e Albert demonstrava-se confiante em obter
bons lucros, pois a biblioteca sempre estava repleta de jovens à procura de
um livro interessante.
Os negócios
iam bem, até que...
Albert notou
algo estranho. Alguns de seus melhores livros não estavam na prateleira.
Intrigado, sem lembrar se os tinha vendido verificou no sistema as últimas
vendas, já que no dia anterior ainda estavam na prateleira e confirmou sua
suspeita: os livros haviam sumido.
Semanas se passaram
e a cada novo dia, Albert confirmava mais livros desaparecidos. Aquilo lhe
inquietava. -Como estariam sumindo? - Quem está levando esses livros? Fico atento a quem entra e sai daqui e não
percebo ação suspeita.
Mas isso chegou
ao limite quando o seu considerado livro de “ouro” também sumira.
- Oh, não!
Isso é o fim da picada! Meu livro mais caro e precioso que não vendo por
nada, sumiu?
Antes do
sumiço do seu livro de “ouro” Albert não via a necessidade de instalar câmeras
na sua simples biblioteca. Não lhe passou pela cabeça que alguém quisesse
roubar tantos livros. Mediante a situação ainda sem resposta, pôs câmeras nas
partes mais estratégicas e visitadas pelo público: as fileiras dos mais caros
livros.
Entrava e
saia clientes. Folheavam livros avulsos, liam e admiravam capas
interessantes. Comentavam os títulos, imaginavam o conteúdo deles até
decidirem levar pelo menos um. Essa era a rotina que Albert passou a ver no
registro das câmeras. Só não via o que
queria ver: livros sendo roubados.
Mais uma vez
encafifado com o sumiço de seus melhores livros, chegou a passar noites em
claro na sua biblioteca, já não confiava na potencialidade das câmeras.
Pensou: com certeza esse ladrão de livros vem na calada da noite e faz alguma
“mágica” para enganar a câmera. Mais uma tentativa sem sucesso. Não viu nada
de anormal. Nem a olho nu, muito menos pelas imagens.
Meses se
foram, o seu negócio já não estava dando lucro. Sem os melhores livros, sem
capital suficiente para repor o estoque, a clientela foi diminuindo.
Continuavam nas prateleiras somente os velhos livros.
Com a
decisão de casar-se, mais por pressão da namorada Eulália, beirando seus três
anos de noivado decidiu mudar o rumo de sua vida. Porém, o que mais lhe afligia
não era o insucesso da sua biblioteca e sim, ter cerrado suas portas sem
saber o que, para ele, se tornara um mistério: o sumiço dos livros.
Eulália, entusiasmada,
cantarolando fazia uma faxina reforçada para dar um novo visual naquele lugar
já triste e empoeirado. Afinal, seria seu novo lar. Aproveitou, folheou
alguns livros, mas não se encantou com um se quer. Foi quando teve a ideia de
guardá-los num quartinho que ficava aos fundos do casarão, parecia mais um
porão. Era lá, que estavam objetos velhos sem serventia.
Ao chegar no
local encontrou um baú velho e empoeirado. Teias de aranha complementavam seu
estado de calamidade. Eulália, curiosa, pegou uma ferramenta e libertou o baú
de seu pequeno cadeado. Ficou surpresa ao encontrar um belo livro cor de
ouro. Folheou-o cautelosamente e foi amor à primeira vista. De repente, lembrou-se do que Albert lhe
contara a respeito de sua frustração: o mistério do sumiço dos livros.
Eulália iniciou
uma busca por mais livros. E obteve resultado: uma boa quantidade de livros
valiosos encontrava-se guardada numa caixa bem lacrada com fita. Para ela, parte do mistério estava
esclarecida.
- Os livros
não foram roubados! Exclamou com ar de alegria. Mas como vieram parar aqui?
Albert mal
passou pela porta quando sua noiva lhe contou a novidade. Demonstrou-se
alegre em ter novamente seu livro cor de ouro em mãos. Mas para ele, o
mistério se complicara.
- Como
assim? Estava num baú? E os outros
numa caixa? Mas... não entendo! Isso não faz sentido!
- Será que o
ladrão os levava e quando terminava a leitura os devolvia? Sem ideia lógica
no momento, sugeria Eulália.
- Não. Como
entraria? Esqueceu-se de que tem câmeras aqui?
-
Sinceramente não tenho uma resposta concreta no momento, meu amor. Mas, o
importante é que todos estão com você novamente. Não se estresse com isso,
dizia sua noiva dando-lhe um suave beijo. No entanto, o mistério ainda não
terminara para Albert.
Terminada a
reforma na que era biblioteca, o casal tratou de efetuar a mudança o mais
rápido possível. Já com as alianças em seus dedos esquerdos, passaram sua
primeira noite no novo lar.
Tudo ia bem,
até que...
Numa dessas
noites inquietantes para Eulália, que forçava a chegada do sono lendo um
livro, percebeu que seu esposo se movia muito na cama. Estava tentando se
levantar e não conseguia. O estranho é que ela o chamava e ele continuava de
olhos fechados. Eulália ficou intrigada com a cena. Já havia escutado antes
movimentação na cama e seu esposo saindo do quarto durante madrugadas
anteriores, mas não dava importância, para ela, Albert iria tomar água ou ir
ao banheiro. Porém, nessa madrugada ficou atenta à situação.
Albert
levantou-se de súbito. Foi até o armário. Pegou uma pequena chave na gaveta. Desceu as escadas. Pegou o seu livro cor de
ouro e o guardou no baú. Eulália ficou pasmada. Não sabia como proceder. Se
devia acordá-lo ou deixá-lo “zumbi” como estava. Achou perigoso mexer com um
sonâmbulo. Para ela, o mistério fora
revelado. O próprio esposo, por gostar tanto de livros, os guardava com
intenção de mantê-los perto de si.
- Meu Deus!
Isso é inacreditável! Como farei para Albert deixar de ser sonâmbulo? Agora quem está intrigada sou eu.
Ao
amanhecer, Eulália não esperou a hora do café e já contou para o esposo sobre
a madrugada em claro. Fundamentou sua afirmação mostrando o livro no baú.
Albert ficou surpreso e desacreditando na esposa disse-lhe que, se fosse ele
o ladrão de livros, as câmeras teriam registrado na época em que sumiam das
prateleiras.
Diante da
situação, Eulália puxou da memória que Albert lhe contara que depois de
instalar as câmeras não mais sumiram livros.
- Realmente,
após eu pôr as câmeras, os livros que ainda restavam continuaram nas
prateleiras.
- Albert,
isso porque você já havia guardado os mais interessantes. Os mais velhos e
simples não lhe importava. Lembra que você sempre lia os livros de grandes
autores da literatura brasileira?
- Sim,
mas... não, sonâmbulo eu não sou. Não
pode ser.
- Ah, já
sei! Veremos as imagens gravadas de ontem. Depois disso, não tem como você
duvidar de mim.
- Um
momento, Eulália. Esqueceu-se de que as câmeras estão com defeito?
- Sério? Não
acredito?
- Você não
lembra? Depois eu que sou o esquecido sonâmbulo!
Eulália, em
sua última tentativa foi verificar.
- Verdade,
não tem imagem alguma registrada no sistema.
- Eulália,
só sei que não sou sonâmbulo. Como minha família não notou todo esse tempo?
Sinceramente, você quer encontrar uma forma de fazer-me esquecer desse
mistério que ainda “cutuca” o meu cérebro de homem inteligente!
Eulália,
cabisbaixa e certa do que vira na noite anterior fingiu ter posto um fim
nessa história de mistério. Agora, quem estava com um mistério a ser revelado
era ela. A mesma manteve-se decidida a confirmar sua afirmação, que soou como
acusação ao esposo, tornando o conflito ainda mais caloroso. A partir daquele
dia ficaria noites em claro. Com o celular em mãos, gravaria a próxima noite
sonâmbula de Albert.
Autora:
Graziela Viana - 9º “A”
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário