Albert,
magricelo, alto, porém vaidoso. Com seus olhos azuis encantava as moças do bairro
onde morava. Já nos seus 25 anos,resolveu, por gostar de ler, investir numa
biblioteca.
Estrategicamente,
a biblioteca foi inaugurada próxima à escola, situada no centro da cidade.
Semanas
se passaram e Albert demonstrava-se confiante em obter bons lucros, pois a
biblioteca sempre estava repleta de jovens à procura de um livro
interessante.
Os
negócios iam bem até que...
Albert
notou algo estranho. Alguns de seus melhores livros não estavam na prateleira.
Intrigado, sem lembrar se os tinha vendido, verificou no sistema as últimas
vendas, já que no dia anterior ainda estavam na prateleira e confirmou sua
suspeita: os livros haviam sumido.
Semanas
passaram e a cada novo dia, Albert confirmava mais livros desaparecidos. Aquilo
lhe inquietava. -Como estariam sumindo? - Quem pode estar levando esses
livros? Fico atento a quem entra e sai
daqui e não percebo ação suspeita. Questionava todos os dias.
Mas
isso chegou ao limite quando o seu considerado livro de “ouro” também sumira.
-
Oh, não! Isso é o fim da picada! Passou dos limites. Meu livro mais caro e
precioso que não vendo por nada sumiu? Assim não suporto.
Antes
do sumiço do seu livro de “ouro” Albert não via a necessidade de instalar
câmeras na sua simples biblioteca. Não lhe passou pela cabeça que alguém
quisesse roubar tantos livros. Mediante a situação ainda sem resposta, pôs
câmeras nas partes mais estratégicas e visitadas pelo público: as fileiras dos
mais caros livros.
Entrava
e saia clientes. Folheavam livros avulsos, liam e admiravam capas
interessantes. Comentavam os títulos, imaginavam o conteúdo deles até decidirem
levar pelo menos um. Essa era a rotina que Albert passou a ver no registro das
câmeras. Só não via o que queria ver:
livros sendo roubados.
Mais
uma vez encafifado com o sumiço de seus melhores livros, chegou a passar noites
em claro na sua biblioteca, já não confiava na potencialidade das câmeras. Pensou:
com certeza esse ladrão de livros vem na calada da noite e faz alguma “mágica”
para enganar a câmera. Mais uma tentativa sem sucesso. Não viu nada de anormal.
Nem a olho nu, muito menos pelas imagens.
Meses
se foram, o seu negócio já não estava dando lucro. Sem os melhores livros, sem
capital suficiente para repor, a clientela foi diminuindo. Continuavam nas
prateleiras os velhos livros. Esses não foram levados.
Com
a decisão de casar-se, mais por pressão da namorada Eulália, pois beirando seus
três anos de noivado, decidiu mudar o rumo de sua vida. Fechou a biblioteca e fez dela sua casa.
Porém, o que mais lhe afligia não era o insucesso da sua biblioteca e sim, o
sumiço dos livros. Cerrou as portas de seu negócio sem saber o que para ele se
tornara um mistério: osumiço dos livros.
Eulália,
entusiasmada com a nova moradia, cantarolando fazia uma faxina reforçada para
dar um novo visual naquele lugar já triste, sombrio e empoeirado. Afinal, seria
seu novo lar. Aproveitou, folheou alguns livros, mas não se encantou com um se
quer. Foi quando teve a ideia de guardá-los num quartinho que ficava aos fundos
do casarão, parecia mais um porão. Era lá, que estavam objetos velhos sem
serventia.
Ao
chegar no quartinho encontrou um baú velho e empoeirado. Teias de aranha
complementavam seu estado de calamidade. Eulália, curiosa, pegou uma ferramenta
e libertou o baú de seu pequeno cadeado. Ficou surpresa ao encontrar um belo
livro cor de ouro. Folheou-o cautelosamente e foi amor à primeira vista. De repente, lembrou-se do que Albert lhe
contara a respeito de sua frustração: o mistério do sumiço dos livros.
Eulália iniciou uma
procura por mais livrosnaquele quartinho. E obteve resultado: uma boa
quantidade de livros valiosos. Encontravam-se guardados numa caixa bem lacrada
com fita. Para ela, parte do mistério
estava esclarecida:
-
Os livros não foram roubados! Exclamou com ar de alegria. Mas como vieram parar
aqui?
Albert
mal passou pela porta quando sua noiva lhe contou a novidade. Demonstrou-se
alegre em ter novamente seu livro cor de ouro em mãos. Mas para ele, o mistério
se complicara.
-
Como assim? Estava num baú? E os outros
numa caixa? Mas... não entendo! Isso é loucura!
-
Será que o ladrão levava e quando terminava a leitura devolvia? Sem ideia logica
no momento, sugeria Eulália.
-
Não, isso é loucura. Como entraria? Esqueceu-se de que tem câmeras aqui?
-
Sinceramente não tenho uma resposta concreta no momento, meu amor. Mas, o
importante é que todos estão com você novamente. Não se estresse mais com isso,
dizia sua noiva dando-lhe um suave beijo. No entanto, o mistério ainda não
terminara para Albert.
Terminada
a reforma na que era biblioteca, o casou tratou de efetuar a mudança o mais
rápido possível. Já com alianças em seus dedos esquerdos, passaram sua primeira
noite no novo lar.
Tudo
ia bem, até que...
Numa
dessas noites inquietantes para Eulália, que forçava a chegada do sono lendo um
livro, percebeu que seu esposo se movia muito na cama. Estava a tentativa de
levantar-se e não conseguia. O estranho é que ela o chamava e ele continuava de
olhos fechados. Eulália ficou intrigada com a cena. Já havia escutado antes
movimentação na cama e seu esposo saindo do quarto durante madrugadas
anteriores, mas não dava importância, para ela, Albert iria tomar água ou ir ao
banheiro. Porém, nessa madrugada, ficou atenta à situação.
Albert
levantou-se de súbito. Foi até o armário. Pegou uma pequena chave na
gaveta. Desceu as escadas. Pegou o seu
livro cor de ouro e o guardou no baú. Eulália ficou pasmada. Não sabia como
proceder. Devia acordá-lo ou deixá-lo “zumbi” como estava? Achou perigoso mexer
com um sonâmbulo. Para ela, o mistério
fora revelado.
O próprio esposo, por
gostar tanto de livros, principalmente o de “ouro”, os guardava com intenção de
mantê-los perto de si.
-
Meu Deus! Isso é uma loucura! Como farei para Albert deixar de ser
sonâmbulo? Agora quem está intrigada sou
eu.
Ao
amanhecer, Eulália não esperou a hora do café e já contou para o esposo sobre a
madrugada em claro. Comprovou sua afirmação mostrando o livro dentro do baú.
Albert ficou surpreso e desacreditando na esposa disse-lhe que se fosse ele, o
ladrão de livros, as câmeras teriam registrado na época em que sumiam das
prateleiras.
Diante
da situação, Eulália puxou da memória que Albert lhe contara que depois de
instalar as câmeras não sumiram mais livros. Ele, sem palavras, concordou com a
esposa:
-
Realmente, após eu pôr as câmeras os livros que ainda restavam continuaram nas
prateleiras.
-
Albert, isso porque você já havia guardado os mais interessantes. Os mais velhos
e simples não lhes eram importantes.
-
Lembra que você sempre escolhia os livros renomados de grandes autores da
literatura brasileira? Insistiu a
esposa.
-
Sim, mas... não, sonâmbulo eu não sou.
Não pode ser.
-
Ah, já sei! Veremos as imagens gravadas de ontem. Depois disso, não tem como
você duvidar de mim.
-
Um momento, Eulália. Esqueceu-se de que as câmeras estão com defeito?
-
Sério? Não acredito?
-
Você não lembra? Depois eu que sou o esquecido sonâmbulo!
Eulália,
em sua última tentativa foi verificar.
-
Verdade, não tem imagem alguma registrada no sistema.
-
Eulália, só sei que não sou sonâmbulo. Isso é um absurdo. Como minha família
não notou todo esse tempo? Sinceramente, você quer encontrar uma forma de
fazer-me esquecer desse mistério que ainda “cutuca” o meu cérebro de homem
inteligente!
Eulália,
cabisbaixa e certa do que vira na noite anterior fingiu ter posto um fim nessa
história de mistério. Agora, quem estava com um mistério a ser revelado era
Eulália. A mesma manteve-se decidida a confirmar sua afirmação, que soou como
acusação ao esposo, tornando o conflito ainda mais caloroso.
A
partir daquele dia,ficaria noites em claro. Com o celular em mãos, gravaria a
próxima noite sonâmbula de Albert. .
Aluna: Graziela
Silva – 9º “A”
Professora: Francisca Freitas Da Silva Pinheiro.
Escola: E. F. Edilson Façanha -Rio Branco – AC, 2015