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Livro Escritores da Periferia

Livro Escritores da Periferia
Uma produção dos alunos da escola Edílson Façanha

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

O sumiço dos livros





Albert, magricelo, alto, porém vaidoso. Com seus olhos azuis encantava as moças do bairro onde morava. Já nos seus 25 anos,resolveu, por gostar de ler, investir numa biblioteca.

Estrategicamente, a biblioteca foi inaugurada próxima à escola, situada no centro da cidade.

Semanas se passaram e Albert demonstrava-se confiante em obter bons lucros, pois a biblioteca sempre estava repleta de jovens à procura de um livro interessante. 

Os negócios iam bem até que...

Albert notou algo estranho. Alguns de seus melhores livros não estavam na prateleira. Intrigado, sem lembrar se os tinha vendido, verificou no sistema as últimas vendas, já que no dia anterior ainda estavam na prateleira e confirmou sua suspeita: os livros haviam sumido.

Semanas passaram e a cada novo dia, Albert confirmava mais livros desaparecidos. Aquilo lhe inquietava. -Como estariam sumindo? - Quem pode estar levando esses livros?  Fico atento a quem entra e sai daqui e não percebo ação suspeita. Questionava todos os dias.

Mas isso chegou ao limite quando o seu considerado livro de “ouro” também sumira.

- Oh, não! Isso é o fim da picada! Passou dos limites. Meu livro mais caro e precioso que não vendo por nada sumiu? Assim não suporto. 

Antes do sumiço do seu livro de “ouro” Albert não via a necessidade de instalar câmeras na sua simples biblioteca. Não lhe passou pela cabeça que alguém quisesse roubar tantos livros. Mediante a situação ainda sem resposta, pôs câmeras nas partes mais estratégicas e visitadas pelo público: as fileiras dos mais caros livros. 

Entrava e saia clientes. Folheavam livros avulsos, liam e admiravam capas interessantes. Comentavam os títulos, imaginavam o conteúdo deles até decidirem levar pelo menos um. Essa era a rotina que Albert passou a ver no registro das câmeras.  Só não via o que queria ver: livros sendo roubados.

Mais uma vez encafifado com o sumiço de seus melhores livros, chegou a passar noites em claro na sua biblioteca, já não confiava na potencialidade das câmeras. Pensou: com certeza esse ladrão de livros vem na calada da noite e faz alguma “mágica” para enganar a câmera. Mais uma tentativa sem sucesso. Não viu nada de anormal. Nem a olho nu, muito menos pelas imagens. 

Meses se foram, o seu negócio já não estava dando lucro. Sem os melhores livros, sem capital suficiente para repor, a clientela foi diminuindo. Continuavam nas prateleiras os velhos livros. Esses não foram levados. 

Com a decisão de casar-se, mais por pressão da namorada Eulália, pois beirando seus três anos de noivado, decidiu mudar o rumo de sua vida.  Fechou a biblioteca e fez dela sua casa. Porém, o que mais lhe afligia não era o insucesso da sua biblioteca e sim, o sumiço dos livros. Cerrou as portas de seu negócio sem saber o que para ele se tornara um mistério: osumiço dos livros.

Eulália, entusiasmada com a nova moradia, cantarolando fazia uma faxina reforçada para dar um novo visual naquele lugar já triste, sombrio e empoeirado. Afinal, seria seu novo lar. Aproveitou, folheou alguns livros, mas não se encantou com um se quer. Foi quando teve a ideia de guardá-los num quartinho que ficava aos fundos do casarão, parecia mais um porão. Era lá, que estavam objetos velhos sem serventia.

Ao chegar no quartinho encontrou um baú velho e empoeirado. Teias de aranha complementavam seu estado de calamidade. Eulália, curiosa, pegou uma ferramenta e libertou o baú de seu pequeno cadeado. Ficou surpresa ao encontrar um belo livro cor de ouro. Folheou-o cautelosamente e foi amor à primeira vista.  De repente, lembrou-se do que Albert lhe contara a respeito de sua frustração: o mistério do sumiço dos livros.

Eulália iniciou uma procura por mais livrosnaquele quartinho. E obteve resultado: uma boa quantidade de livros valiosos. Encontravam-se guardados numa caixa bem lacrada com fita.  Para ela, parte do mistério estava esclarecida:

- Os livros não foram roubados! Exclamou com ar de alegria. Mas como vieram parar aqui?

Albert mal passou pela porta quando sua noiva lhe contou a novidade. Demonstrou-se alegre em ter novamente seu livro cor de ouro em mãos. Mas para ele, o mistério se complicara.

- Como assim? Estava num baú?  E os outros numa caixa? Mas... não entendo! Isso é loucura!

- Será que o ladrão levava e quando terminava a leitura devolvia? Sem ideia logica no momento, sugeria Eulália.

- Não, isso é loucura. Como entraria? Esqueceu-se de que tem câmeras aqui?

- Sinceramente não tenho uma resposta concreta no momento, meu amor. Mas, o importante é que todos estão com você novamente. Não se estresse mais com isso, dizia sua noiva dando-lhe um suave beijo. No entanto, o mistério ainda não terminara para Albert.

Terminada a reforma na que era biblioteca, o casou tratou de efetuar a mudança o mais rápido possível. Já com alianças em seus dedos esquerdos, passaram sua primeira noite no novo lar.

Tudo ia bem, até que...

Numa dessas noites inquietantes para Eulália, que forçava a chegada do sono lendo um livro, percebeu que seu esposo se movia muito na cama. Estava a tentativa de levantar-se e não conseguia. O estranho é que ela o chamava e ele continuava de olhos fechados. Eulália ficou intrigada com a cena. Já havia escutado antes movimentação na cama e seu esposo saindo do quarto durante madrugadas anteriores, mas não dava importância, para ela, Albert iria tomar água ou ir ao banheiro. Porém, nessa madrugada, ficou atenta à situação.

Albert levantou-se de súbito. Foi até o armário. Pegou uma pequena chave na gaveta.  Desceu as escadas. Pegou o seu livro cor de ouro e o guardou no baú. Eulália ficou pasmada. Não sabia como proceder. Devia acordá-lo ou deixá-lo “zumbi” como estava? Achou perigoso mexer com um sonâmbulo.  Para ela, o mistério fora revelado.

O próprio esposo, por gostar tanto de livros, principalmente o de “ouro”, os guardava com intenção de mantê-los perto de si.

- Meu Deus! Isso é uma loucura! Como farei para Albert deixar de ser sonâmbulo?  Agora quem está intrigada sou eu.

Ao amanhecer, Eulália não esperou a hora do café e já contou para o esposo sobre a madrugada em claro. Comprovou sua afirmação mostrando o livro dentro do baú. Albert ficou surpreso e desacreditando na esposa disse-lhe que se fosse ele, o ladrão de livros, as câmeras teriam registrado na época em que sumiam das prateleiras.

Diante da situação, Eulália puxou da memória que Albert lhe contara que depois de instalar as câmeras não sumiram mais livros. Ele, sem palavras, concordou com a esposa:

- Realmente, após eu pôr as câmeras os livros que ainda restavam continuaram nas prateleiras.

- Albert, isso porque você já havia guardado os mais interessantes. Os mais velhos e simples não lhes eram importantes.

- Lembra que você sempre escolhia os livros renomados de grandes autores da literatura brasileira?  Insistiu a esposa.

- Sim, mas...  não, sonâmbulo eu não sou. Não pode ser.

- Ah, já sei! Veremos as imagens gravadas de ontem. Depois disso, não tem como você duvidar de mim.

- Um momento, Eulália. Esqueceu-se de que as câmeras estão com defeito?

- Sério? Não acredito?

- Você não lembra? Depois eu que sou o esquecido sonâmbulo!

Eulália, em sua última tentativa foi verificar.

- Verdade, não tem imagem alguma registrada no sistema.

- Eulália, só sei que não sou sonâmbulo. Isso é um absurdo. Como minha família não notou todo esse tempo? Sinceramente, você quer encontrar uma forma de fazer-me esquecer desse mistério que ainda “cutuca” o meu cérebro de homem inteligente!

Eulália, cabisbaixa e certa do que vira na noite anterior fingiu ter posto um fim nessa história de mistério. Agora, quem estava com um mistério a ser revelado era Eulália. A mesma manteve-se decidida a confirmar sua afirmação, que soou como acusação ao esposo, tornando o conflito ainda mais caloroso.

A partir daquele dia,ficaria noites em claro. Com o celular em mãos, gravaria a próxima noite sonâmbula de Albert. .

Aluna: Graziela Silva – 9º “A”
Professora: Francisca Freitas Da Silva Pinheiro.
Escola: E. F. Edilson Façanha -Rio Branco – AC, 2015 

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