Como
de costume, antes do anoitecer já começávamos a juntar os gravetos.
Precisávamos fazer nossa fogueira. Era noite de Santo Antônio. O Santo católico
“casamenteiro”. Naquele mês de junho de1981, no município de Tarauacá, Acre,
todos os Santos eram homenageados. Sem contar que as pessoas acreditavam que
eles poderiam ajudá-los em suas dificuldades do cotidiano. O santo
“casamenteiro” era famoso, pois os jovens ficavam ansiosos, na expectativa de
encontrarem sua cara metade, nesse dia santíssimo.
Nesse
tempo o município era praticamente rural. Sensacional! A maior parte das
pessoas residia no seringal. E as poucas que ficavam no centro demonstravam
atitudes e costumes típicos do meio rural. As crenças, o devoto aos santos, a
alimentação, as rezas de Ave Maria e Pai Nosso que eram repetidas por várias
vezes numa missa, em casa. Todos tinham na parede a imagem da santa. A
diferença é que nos seringais não havia igreja, mas as pessoas se reuniam na
maior casa do local para rezar.
Meus
amiguinhos e eu juntávamos os gravetos o mais rápido possível. Tínhamos pressa
para apreciarmos a bela fogueira e para competirmos. O grupo que conseguisse
fazer a maior fogueira, mais acesa e estrondosa, ganhava elogios, reconhecimento
dos pais e dos vizinhos. Era uma satisfação sem tamanho. Lembro que ficávamos
até meia noite ao redor do fogo que parecia querer nos falar por meio de
estalos. Conversávamos, brincávamos. Quando o fogo estava brando, iniciavam-se
os pulos. Todas as crianças passavam pela fogueira. Era a nossa dança. Nossa
festa no mês de junho.
Como
toda menina sapeca, no desejo de ganhar a competição da mais bela fogueira,
lancei nela um frasco de um produto químico, muito utilizado na época, nomeado
por Detefon. Ele servia como inseticida, até contra pragas na agricultura. Sem
noção do que poderia acontecer, cito o risco, porque acreditava que só iria
aumentar o fogo, após o lançamento vi que a consequência foi maior. Houve uma
explosão na fogueira. Eram pedaços de gravetos para todos os lados. As crianças
corriam e gritavam. Mas, foi apenas um susto repentino. Retornaram e a
travessura acabou sendo o foco de alegria naquela noite linda.
Um
dos meus encantos por aquela noite de santo era a comida típica: mandioca, banana
e milho eram assados na própria fogueira. Não tínhamos que irmos de barraca em
barraca para comprarmos comida. Nem tinha barraca. Providenciávamos o nosso
alimento conjuntamente. As pessoas se uniam e contribuíam com o que podiam. No
final, todos ficavam satisfeitos e até sobrava para o dia seguinte. Porém, o
meu encantamento maior era a alegria e a paz que reinavam a nossa festa. Elas
purificavam o espírito festivo de todos.
O
mais curioso dessas noites de junho era que enquanto as crianças saltavam a
fogueira os adultos se apadrinhavam. Era o batismo na fogueira. Cada um
escolhia o seu padrinho e a sua madrinha e estendiam os braços, seguravam-se
pelas mãos e rezavam. Eu não entendia a reza, no entanto, eles se benziam e
demonstravam-se respeitosos uns com os outros por toda a vida. Era um pacto
abençoado que perdurava.
Esse
era nosso arraial. Não tinha competição de dança, a música ficava por conta da
viola e das crianças que faziam questão de cantar suas cantigas ao redor da
fogueira. Nossa bebida era o suco natural. Tudo era nos moldes do catolicismo.
Havia um respeito religioso pleno em cada atitude demonstrada durante a
festividade. Assim, acontecia nossa festa junina. Simples e abençoada,
diferente da contemporaneidade, na qual os destaques são outros. Não há mais
fogueira, muito menos batismo de fogueira. O que ocorre é uma publicidade
marcante, na qual reina a competição de barracas, quem vende mais, que grupo
dança melhor: o fato mais famoso e atraente das festas juninas de hoje, éa
mistura de bingos, sorteios e até
consulta às cartas. Constata-se uma multiplicidade numa festa que antes era tão
mais singela e totalmente católica, voltada extremamente aos santos. Mesmo com
todas as mudanças, ainda prefiro as que marcaram minha infância. As que foram
festejadas sob a benção do padre e enfeitadas com a fogueira.
Aluna: Katriele. (8º
ano C)
Professora: Francisca Freitas Da Silva Pinheiro.
Escola: E. F. Edilson Façanha -Rio Branco – AC. 2014
(Texto baseado na entrevista feita com Dulcilene Souza Aguiar Vieira, 43 anos.)
Professora: Francisca Freitas Da Silva Pinheiro.
Escola: E. F. Edilson Façanha -Rio Branco – AC. 2014
(Texto baseado na entrevista feita com Dulcilene Souza Aguiar Vieira, 43 anos.)
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