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Livro Escritores da Periferia

Livro Escritores da Periferia
Uma produção dos alunos da escola Edílson Façanha

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Folhas que se movem



Era uma manhã linda. As flores do campo exalavam perfumes. Ainda sinto o cheiro doce das rosas. O vento forte vinha de várias direções e os passarinhos estavam mais animados que as outras manhãs que já vira ali. Estava certa: O lugar em que morava era mesmo um sonho. Situava-se no interior de Rio Branco, no Acre.

          Naquela manhã resolvi fazer o que mais gostava: pescar. Isso mesmo. Pescar não era somente para os meninos. Naquela época, na zona rural não tinha praticamente divisão de serviços ou de brincadeiras. A mulher fazia trabalhos de “macho”. O exemplo disso era minha mãe: mulher guerreira. Tinha uma “força de Sansão”. Não sei como conseguia ser mãe, esposa, cozinheira, ajudar na roça, no corte de seringa e até mesmo na caça. Ela sempre foi minha admiração maior.

Não contei conversa, chamei meus companheiros de sempre para pescaria: um dos meus irmãos e o colega mais próximo de nossa “colocação”. Era assim que nomeavam as colônias, ou fazendinhas. Seguimos rumo ao riozinho do local e claro, aproveitávamos a ida para subirmos nas árvores e pegarmos algumas frutas. Ficávamos embaixo delas e comíamos ali mesmo, saboreando o gosto de tudo aquilo tão natural. Nada se compara a esses momentos que vivi.

Quando chegamos à beira do riozinho cada um escolheu um lugar mais conveniente para realizar a pescada. Queria pegar o maior peixe possível, porém, nesse rio o que mais tinha era piaba, o menor peixe. O maior era a traíra, que para mim seria difícil segurar o anzol , caso o pegasse.  E nessa escolha, procurei o cantinho mais distante. Desejava que fosse a pescada dos meus sonhos. Pois toda vez meu irmão e meu colega pegavam mais peixes que eu. Não queria ficar para trás dessa vez. Não. Chega! Essa manhã é minha.

Eu, pequenina, menina de 08 anos, franzina e indefesa, meio que assustada com os “zumbidos” estranhos no meio da mata, continuava distante. De repente, ouvi “chiados” e percebi que viam das folhas secas caídas à beira do riozinho. Não só chiavam como também se moviam. Mesmo assustada fiquei curiosa. O que seria aquilo? O vento quando leva as folhas secas, ele o faz com força, que elas chegam a voar, e naquela manhã acontecia o inverso, elas iam devagar, de mansinho e pareciam cada vez  mais próximas de mim. Imediatamente levantei-me do lugar e fiquei observando, no entanto, as folhas começaram a “andar” com maior velocidade. Gritei para meu irmão imediatamente.

          Fiquei ali, perplexa. Não sabia se corria ou se continuava parada. O pior é que eu não via nada, apenas as folhas se movendo. Devia ser o medo que me impedia de ver algo. Nesse instante, meu irmão chegou juntamente com nosso colega. Lembro que só consegui dizer que as folhas se mexiam e nada mais. Saí correndo para casa, gritando, assustada. Deixei o caniço e o anzol. Deixei minha pescaria. Meu desejo de pegar o maior peixe não se realizou.

Quando meu irmão e nosso colega chegaram em casa, disseram que resolveram a situação. Mataram-na a pauladas. Forma que nossa mãe nos ensinou. Ela dizia que quando nos deparássemos com tal situação, pegássemos um galho maior, que estivesse próximo para matar à distância. Assim, evitaria dela dar o bote que é a sua principal defesa. Depois disso, minha mãe não permitiu que eu fosse pescar. Fiquei só na vontade e com medo das folhas secas que o vento derrubava, quando forte estava. O problema não era exatamente as folhas. Elas enfeitavam o caminho no meio da floresta e a beira do riozinho, mas infelizmente, nelas se escondiam os bichos venenosos.

Aluna: Andressa RogérioDa Silva. (8º ano E)
Professora: Francisca Freitas Da Silva Pinheiro. /Escola: E. F. Edilson Façanha -Rio Branco – AC. 2014
(Texto baseado na entrevista feita com Rute Lima de Freitas, 43 anos.)

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